terça-feira, 31 de maio de 2016

Dar e Comer

Será que os gays conseguem ser ativos ou passivos somente em uma relação de longo prazo? Nunca o passivo sentirá vontade comer? Nunca o ativo sentirá vontade de dar? 
Em um relacionamento de “balada”, é comum um ser ativo ou passivo somente. Ok!

Mas e quando convivemos com a mesma pessoa durante vários anos?

Como essa dinâmica acontece na prática?

A heteronormalidade nos faz transferir os conceitos que funcionam com eles, para a nossa realidade também. Um casal heterossexual sempre terá a mulher com uma vagina e um homem com um pinto. Suas “posições” na relação e no sexo estão, praticamente, claras. Mas em uma relação homossexual, há sempre dois homens com um pinto cada um ou duas mulheres com uma vagina cada uma. É normal, depois de alguns anos, acontecerem variações e curiosidades.

Gays! Parem de pensar que esse jeito vai funcionar para nós! Pois não vai!






Com este post, minha intenção é fazermos pensar mais como gays mesmos, que é o que somos. E deixarmos os conceitos "mastigadinhos" um pouco de lado.

Comentem o que acham sobre o assunto. Vamos entrar num acordo.


sábado, 30 de novembro de 2013

Comportamento gay é uma consequência histórica

Post baseado na tese de mestrado de Diego Nunes Reis na PUCRS: Homens Distintos, Consumo, Construção do Corpo e Identidade Gay Viril.

Como já falei em outros posts, acredito que tudo ocorre por alguma razão. Dessa forma, falo nesse post sobre comportamento de uma “grupo” em específico dentro do grande mundo gay: as “barbies”. Por que valorizam tanto a estética? Por que normalmente não se relacionam com homens mais efeminados? O que os motivou a assumirem essa postura?


 Sempre bem vestidos


As “barbies” é um termo atribuído aos homens gays que prezam pela aparência, maneira de agir e de se vestir bastante masculinizados. Dessa forma, esse tipo de gay são aqueles homens sarados, sem trejeitos femininos e que sempre estão vestindo roupas de grandes marcas consideradas de luxo, como por exemplo:

    Armani
    Calvin Klein
    Lacoste
   
Segundo Nunan (2002), há pontos que homossexuais se diferenciam de heterossexuais em relação ao consumo:

    são mais individualistas por terem mais dificuldade de se casar e ter filhos;
    necessitam de uma interação social a mais, devido ao fato de sofrerem um isolamento social;
    normalmente não gostam de rotina e buscam por novas experiências de vida e
    Precisam descontrair um pouco por causa do estresse

Para complementar essa ideia, mostro para vocês a definição de luxo, proposta por André D’Angelo (2006): “Para ser considerado um produto de luxo (…) deve-se informar ao consumidor que o processo de fabricação possui qualidades superiores, com matérias primas consideradas sofisticadas, tecnologia de última geração e técnicas artesanais. Além disso, o luxo é mais caro quando comparado aos produtos e serviços semelhantes existentes no mercado. Outra característica (…) do luxo é sua exclusividade (…)”.
O antropólogo Diego Reis (2013), que realizou uma pesquisa sobre o consumo e construção do corpo entre os gays masculinos, afirmou em um momento de seu texto: “Pude vislumbrar que muitos jovens que sofreram algum tipo de estigmatização por sua orientação sexual utilizam o consumo de grandes marcas para comunicar sucesso, prestígio, “bom gosto” e poder aquisitivo.”
Diante disso, aliado ao fato de que alguns necessitam comprar, com a finalidade de definir sua identidade, ao demonstrar status, “bom gosto”, superioridade e exclusividade, (através de produtos de luxo) é óbvio que sempre veremos as “barbies” bem vestidas e normalmente com roupas de grandes marcas.

Sempre bem sarados


Em relação aos corpos esculturais, há um motivo histórico para que esses gays terem essa aparência.
Diego cita em sua tese que um psiquiatra alemão, Carl Westphal, em 1870 publicou um artigo chamado “As sensações sexuais contrárias”. Depois de publicado os homossexuais começaram a ser taxados de doentes e não mais "pecaminosos”.
Antes das “barbies” aparecerem por volta de 1990, como podemos observar pelo artigo de Westphal, os corpos de gays eram tratados como algo pecaminoso, frágil, delicado e muito efeminado. Assim, os homossexuais daquela época sofreram muito preconceito em relação a tudo isso.  Talvez como estratégia de defesa, muitos  gays passaram a evitar fortemente tudo o que costuma ser discriminado pela sociedade em relação aos gays, e por causa disso, começaram a frequentar academias, com o objetivo  de evitar e transformar os corpos delicados, frágeis e efeminados. Levando em consideração que muitos desses gays normalmente não são assumidos no ambiente familiar e profissional, e que esse “corpo musculoso” é usado para afastar a ideia de qualquer pessoa sobre sua homossexualidade, podemos chegar a conclusão de que tudo isso é também uma busca pela construção da própria identidade, além de uma defesa diante da sociedade.
E pensem! Usar o corpo como meio de demonstrar que gays também podem ter os códigos masculinos (impostos pela sociedade) é uma tática muito eficiente, já que não é preciso parar alguém na rua e tentar convencer que você é “masculino”, uma vez que a pessoa chegará a essa conclusão apenas por observar as características masculinas em seu corpo. Os trejeitos femininos quando são observados em gays, normalmente são inatos, pois acredito que mesmo eles não querendo, irão “dar pinta”. Como pode ser observado nesse artigo aqui do Armário Transparente : Homens Femininos e Mulheres Masculinas. Dessa forma, é muito mais fácil e bem mais eficaz trabalhar seus músculos para eles crescerem ao invés de tentar controlar seus atos.
Assim como as roupas que vestimos, nosso corpo também transmite uma expressão do que queremos ser, o que estamos sentindo ou onde estamos. Por isso as chamadas "barbies" usam seus corpos para transmitir, de alguma forma, que gays podem ter os códigos masculinos: virilidade, voz grossa, rosto não delicado e ombros largos. Assim conseguem, por meio dos seus corpos, e não gestos, transmitirem suas mensagens, opiniões e indignações perante à sociedade.

Sempre bem viris


 Trevisan (1998), em seu livro “Seis Balas Num Buraco Só: a Crise do Masculino”, fala sobre a construção do masculino e chega à conclusão de que os padrões que impõe ao corpo dos homens, a maneira de se comportar e vestir são explicitamente rígidos e menos flexíveis que os femininos.
Dessa forma, fica mais claro para nós o porquê que algumas pessoas, inclusive alguns gays, se sentirem tão incomodados com gays com trejeitos femininos. Pois na maioria das vezes os homossexuais nega a masculinidade, aproximando mais do gênero feminino: voz fina, trejeitos e feições delicadas. Através desses fenótipos que os gays foram (e ainda são) historicamente identificados e a partir desse fato o senso comum passou a definir que todos os indivíduos que possuíssem essas características eram gays e consequentemente "doentes". E com o intuito de não serem vistos como doentes e pecaminosos, as “barbies” foram no sentido contrário a esses gays para não receberem isso tipo de estereótipo.
É compreensível agora porque a maioria das “barbies” normalmente não se relaciona com caras efeminados, pois tentam de qualquer forma evitar a feminilidade estereotipada e atribuída aos gays.
Esses preconceitos da sociedade talvez expliquem as agressões físicas e verbais nas ruas, mesmo não sendo uma justificativa plausível. Se fosse realmente normal, a maioria dos homens ofenderia os gays verbal e fisicamente e não é isso que vemos. Assim, é explícito que esses agressores possuem algum desvio de comportamento que os fazem partir para agressão somente impulsionados por um incômodo causado por atitude alheia.
 Vontando ao texto do antropólogo Diego Reis, seleciono uma passagem que considero importante, em que ele mostra, através do contato com as histórias de vida e suas observações:Os gays viris (modo como Diego chama as “barbies”) se diferenciam dos heterossexuais, não somente pela orientação do desejo, mas também pela frequência aos espaços de sociabilidade em circuitos voltados para o público gay”.


Dessa forma, as “barbies” (homens musculosos, viris e com trejeitos masculinizados) ganham muito prestígio no meio gay e assim se apoiam nessa “massagem de ego” para continuarem agindo como agem, como se o retorno de ser bem quisto bastasse para afirmar sua identidade. Essa tribo de gays são valorizados por outros gays, uma vez que se baseiam na construção da sua identidade negando os símbolos do feminino, buscando um corpo e ações idealizadas  e ausência de afetação. Com isso, eles conseguem chamar atenção no meio gay, uma vez que se destacam como homens ideais, ou até mesmo se passam por “heterossexuais” em ambientes que se espera ter somente gays.
Por fim, uma frase de Diego que resume bem o comportamento das “barbies” é a seguinte: “O que se estabeleceu historicamente foi uma busca, por parte de muitos indivíduos, que não manifestavam desejo pelo sexo oposto, por uma representação que os diferenciasse do feminino e que os aproximasse dos códigos da masculinidade, como a virilidade, a força e o vigor”.
De certa forma, as atitudes das “barbies” são realmente o que todos os gays querem. Não faço referências somente às roupas e à busca do corpo perfeito mas também ao fato de lutarem contra um estereótipo imposto aos gays: “mulherzinha”, “efeminado”, “delicado”.
Afinal, não somos “fêmeas”! Temos que nos diferenciar do feminino e quem sabe até impor um novo gênero para podermos ganhar nosso lugar na sociedade.